Epilepsia: novas descobertas 'podem mudar os livros didáticos'

Uma nova pesquisa descobriu que duas proteínas-chave do cérebro estão envolvidas na falha neuronal que caracteriza a epilepsia. As descobertas “podem potencialmente mudar os livros didáticos” sobre epilepsia, de acordo com os pesquisadores, além de abrir caminho para novas terapias.

Mapear os padrões de atividade neuronal no cérebro pode mudar as terapias para a epilepsia.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 50 milhões de pessoas em todo o mundo tenham epilepsia, o que a torna uma das doenças neurológicas mais comuns do mundo.

Nos Estados Unidos, 3,4 milhões de pessoas - ou 1,2% da população - vivem com a doença.

Na epilepsia, partes do cérebro recebem um nível anormalmente alto de sinais elétricos, o que interrompe sua função neurológica normal.

Um cérebro em funcionamento saudável depende de sinais elétricos que as células nervosas enviam umas às outras.

Compreender melhor a dinâmica entre as células nervosas pode levar a melhores tratamentos para a epilepsia. Novas pesquisas nos aproximam de atingir esse objetivo.

Neurocientistas liderados por Rochelle Hines, pesquisadora da Universidade de Nevada, Las Vegas, começaram a investigar como as proteínas do cérebro interagem para regular a sinalização elétrica dos neurônios.

De acordo com Hines, os resultados - que ela e a equipe publicaram agora no jornal Nature Communications - "poderia potencialmente mudar os livros didáticos" sobre epilepsia, pois eles revolucionam a compreensão dos pesquisadores sobre o que controla o disparo de neurônios na doença.

Como duas proteínas podem mudar as ondas cerebrais

Como Hines e colegas explicam em seu artigo, as funções cerebrais com base na dinâmica entre as células excitatórias e os neurônios inibitórios; isso regula as “taxas de disparo global das células” e controla a excitabilidade dos neurônios localmente.

Nessa dinâmica, os receptores GABA tipo A (GABAA) desempenham um papel vital. Os receptores GABAA são "os principais receptores de neurotransmissores inibitórios no cérebro dos mamíferos". Esses receptores têm várias subunidades, variando de alfa a teta.

Na epilepsia, pesquisas anteriores sugeriram que as subunidades alfa dos receptores GABAA medeiam o direcionamento seletivo dos receptores cerebrais. No entanto, os mecanismos por trás disso não eram claros.

Em seu novo estudo, Hines e equipe reduziram os receptores a duas proteínas vitais: subunidade alfa-2 (da família GABAA) e colibistina.

Quando eles interromperam a comunicação entre essas duas proteínas em camundongos, testes de eletroencefalograma revelaram que as ondas cerebrais dos roedores eram irregulares e fora de controle, apresentando padrões semelhantes aos observados em pessoas com epilepsia e ansiedade.

‘Resultados que mudam o livro didático’ e novos medicamentos

Referindo-se às descobertas acima, Hines explica: “Essa é a peça que pode potencialmente mudar os livros didáticos: Anteriormente, tínhamos dúvidas sobre como essas peças se encaixavam e pensávamos que talvez um grupo de três ou mais proteínas interagisse.”

“Mas a pesquisa de nossa equipe sugere fortemente que há uma interação muito específica entre dois deles, e isso tem implicações em como os neurocientistas podem ser capazes de regular essa área.”

Rochelle Hines

A regulação desse “compartimento” de proteínas no cérebro que controla a sinalização celular pode levar a melhores terapias para interromper ou prevenir convulsões.

“Se pudermos entender melhor como os padrões de atividade do cérebro, podemos entender como isso pode dar errado em um distúrbio como a epilepsia, em que a atividade do cérebro se torna descontrolada”, continua Hines.

“E se pudermos entender o que é importante para esse controle, podemos chegar a melhores estratégias para tratar e melhorar a qualidade de vida de pessoas com crises epilépticas e talvez também outros tipos de distúrbios, como ansiedade ou distúrbios do sono.”

O coautor do estudo Stephen Moss, professor de neurociência da Tufts University em Medford, MA, diz que essas descobertas devem levar os pesquisadores a encontrar novos medicamentos que tenham como alvo os receptores alfa-2 GABAA.

none:  palliative-care--hospice-care neurology--neuroscience depression