Drogas psicodélicas 'podem melhorar a depressão, ansiedade e PTSD'

As drogas psicodélicas tendem a ter má reputação; eles podem ter efeitos prejudiciais e levar ao vício. Muitos países os regulam fortemente. Agora, no entanto, os pesquisadores perguntam se essas substâncias podem ser usadas para controlar condições como a ansiedade.

As substâncias psicoativas podem ajudar as pessoas a controlar os sintomas relacionados à ansiedade, trauma e depressão?

A convenção anual da American Psychological Association (APA) - realizada este ano em San Francisco, CA - é o lar de muitos debates instigantes sobre quais direções a psicoterapia deve considerar a seguir.

Este ano, pesquisadores de várias instituições globais discutiram o potencial das drogas psicodélicas no tratamento da ansiedade, depressão e sintomas de trauma psicológico.

Essas instituições incluem o Los Angeles Biomedical Research Institute na Califórnia, a Laurentian University em Sudbury, Canadá, e a Palo Alto University na Califórnia.

“Combinado com psicoterapia, algumas drogas psicodélicas como MDMA, psilocibina e ayahuasca podem melhorar os sintomas de ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático.”

Co-presidente do simpósio Cristina L.Magalhães, Alliant International University Los Angeles, CA

“Mais pesquisas e discussões são necessárias para entender os possíveis benefícios dessas drogas, e os psicólogos podem ajudar a navegar pelas questões clínicas, éticas e culturais relacionadas ao seu uso”, acrescenta Magalhães.

MDMA para ansiedade social?

Muitos pesquisadores consideram as drogas psicodélicas inseguras e são proibidas ou fortemente regulamentadas por governos em todo o mundo, mas isso pode mudar no futuro; os cientistas argumentam que essas substâncias podem ser um complemento útil à psicoterapia.

Atualmente, um ensaio clínico está buscando provar que o MDMA, ou ecstasy, pode ajudar aqueles com diagnóstico de transtorno de estresse pós-traumático (PTSD), como o co-presidente Adam Snider, da Alliant International University em Los Angeles, CA, também observa.

Além disso, um estudo recente - cujas descobertas foram apresentadas na convenção APA - reuniu algumas evidências de que o MDMA, em combinação com a psicoterapia, pode tratar a ansiedade social em adultos com autismo.

Um total de 12 participantes com autismo que experimentaram ansiedade social moderada a grave participaram desse estudo. Eles concordaram em fazer dois tratamentos de MDMA puro, junto com sua terapia regular e contínua, e relataram melhora significativa e de longo prazo dos sintomas.

“A ansiedade social”, explica a autora do estudo, Alicia Danforth, do Los Angeles Biomedical Research Institute, “é prevalente em adultos autistas e poucas opções de tratamento se mostraram eficazes”.

“Os efeitos positivos do uso do MDMA e da terapia duraram meses, ou até anos, para a maioria dos voluntários da pesquisa”, ela enfatiza.

‘Um papel maior para a espiritualidade’ na terapia

Outro estudo cujas descobertas foram apresentadas no simpósio sugeriu que o LSD, a psilocibina (ou cogumelos mágicos) e a ayahuasca podem ajudar a controlar a ansiedade, a depressão e alguns distúrbios alimentares.

A pesquisadora Adele Lafrance, da Laurentian University, argumenta que as drogas psicodélicas podem ajudar com os sintomas psicológicos, em parte, melhorando o senso de espiritualidade de uma pessoa e como elas se relacionam com suas próprias emoções. Isso, diz ela, é o que relatou um estudo com 159 participantes que usaram essas drogas.

De acordo com os resultados do estudo, o uso de substâncias psicoativas levou a um maior senso de espiritualidade, melhor equilíbrio emocional e, portanto, uma redução da ansiedade e da depressão, bem como distúrbios alimentares.

Lafrance diz: “Este estudo reforça a necessidade do campo psicológico considerar um papel mais amplo para a espiritualidade no contexto do tratamento convencional, porque o crescimento espiritual e uma conexão com algo maior do que o eu podem ser promovidos.”

Quanto à ayahuasca, outro estudo discutido no simpósio sugeriu que a bebida pode apoiar o manejo da depressão, dependência e sintomas relacionados ao trauma.

“Descobrimos”, observa a pesquisadora Clancy Cavnar, do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos no Brasil, “que a ayahuasca também promoveu um aumento da generosidade, da conexão espiritual e do altruísmo.”

Câncer, emoções e drogas psicodélicas

Drogas psicodélicas também podem trazer conforto para pessoas que estão lidando com câncer, pois podem reduzir a ansiedade e o sofrimento psicológico.

De acordo com um estudo com 13 participantes que Gabby Agin-Liebes - da Palo Alto University - liderou, a psilocibina, além da psicoterapia, pode ajudar as pessoas a lidar com o medo da morte e o sofrimento em relação à perda.

“Os participantes fizeram interpretações espirituais ou religiosas de sua experiência e o tratamento com psilocibina ajudou a facilitar uma reconexão com a vida, maior atenção e presença e deu-lhes mais confiança quando confrontados com a recorrência do câncer”, explica Agin-Liebes.

O debate sobre a utilidade e segurança das drogas psicoativas está em andamento, mas aqueles que participaram do simpósio da APA concordaram que há necessidade de mais estudos examinando o potencial de tais substâncias mais de perto.

Em particular, eles disseram, as drogas psicodélicas colocam questões legais e éticas delicadas que devem ser devidamente tratadas daqui para frente.

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