'A resistência aos antibióticos em animais de fazenda está aumentando rapidamente'

Os pesquisadores descobriram que a resistência aos antibióticos está aumentando entre os animais de fazenda em países de baixa e média renda. Isso pode ter um impacto grave no bem-estar dos animais e na saúde dos consumidores. Por esta razão, eles insistem no desenvolvimento de melhores políticas agrícolas em todo o mundo.

A resistência aos antibióticos em bovinos dobrou em menos de 20 anos.

Nos últimos anos, os cientistas têm alertado repetidamente sobre a resistência aos antibióticos.

A resistência aos antibióticos refere-se à crescente adaptabilidade e impermeabilidade das bactérias perigosas à ação dos antibióticos, que são drogas potentes projetadas para combater infecções bacterianas.

Os seres humanos podem em breve enfrentar uma crise de resistência aos antibióticos, pois as bactérias às quais somos vulneráveis ​​podem parar de responder aos tratamentos que costumavam ser eficazes contra elas.

Agora, uma nova ameaça se tornou aparente: o aumento da resistência aos antibióticos entre os animais de fazenda, incluindo porcos, gado e aves.

Pesquisas anteriores descobriram que um número crescente de fazendeiros está tratando animais criados para consumo humano com medicamentos antimicrobianos. Os pesquisadores expressaram preocupação sobre o impacto que isso pode ter sobre a saúde humana no funcionamento do pulmão.

Agora, um novo estudo - publicado na revista Ciência - confirma que esta prática levou a um aumento do número de casos de resistência a antibióticos ou antimicrobianos entre animais de fazenda em todo o mundo.

Picos de resistência a medicamentos na Índia e na China

“Os antimicrobianos salvaram milhões de vidas humanas, mas a maioria (73%) é usada em animais criados para alimentação”, escrevem os autores do estudo.

Eles também observam que, nos últimos anos, a produção de carne aumentou em países de renda baixa a média.

Especificamente, “Desde 2000, a produção de carne se estabilizou em países de alta renda, mas cresceu 68%, 64% e 40% na África, Ásia e América do Sul, respectivamente”, escreveram eles.

Esse padrão também significou que esses países usam quantidades cada vez maiores de antibióticos para o tratamento de animais criados para alimentação. Essa prática está ligada ao desenvolvimento de uma crise de resistência aos antibióticos na agricultura, descobriram os pesquisadores.

Como coautor do estudo, Thomas Van Boeckel, do Instituto Federal Suíço de Tecnologia de Zurique, explica:

“Pela primeira vez, temos algumas evidências de que a resistência aos antibióticos [em animais de fazenda] está aumentando, e está aumentando rapidamente em países de baixa e média renda.”

Ele e sua equipe analisaram 901 estudos epidemiológicos que analisaram a evolução de uma série de bactérias disseminadas - Salmonella, Campylobacter, Estafilococo, e Escherichia coli - em países de baixa e média renda em todo o mundo.

Eles descobriram que os casos mais fortes de multirresistência estão ocorrendo entre animais de fazenda na Índia e no nordeste da China, com Quênia, Uruguai e Brasil logo atrás.

Eles também observam que os agricultores tendem a usar quatro tipos específicos de medicamentos antimicrobianos - geralmente para estimular os animais a engordar. São tetraciclinas, sulfonamidas, quinolonas e penicilinas. Essas drogas também são aquelas contra as quais as bactérias desenvolveram as maiores taxas de resistência.

Van Boeckel e seus colegas acrescentam que, entre 2000 e 2018, a quantidade de antimicrobianos aos quais as bactérias que afetam os bovinos se tornaram resistentes dobrou, enquanto para frangos e porcos quase triplicou.

Eles dizem que agora é a hora de os países aplicarem políticas que regulem o uso de antibióticos de forma mais rígida, já que alguns dos países com esse problema - como o Brasil - também estão entre os principais exportadores de carne.

“Somos os grandes responsáveis ​​por este problema global que criamos”, conclui Van Boeckel. “Se queremos ajudar a nós mesmos, devemos ajudar os outros.”

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